Trazendo a mata atlântica de volta a SP

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Cristina Rappa para Coalizão Verde (1PapoReto, CenárioAgro e Neo Mondo)

A cidade de São Paulo está localizada na mata atlântica, bioma do qual restam apenas 12% de sua área original, quando aqui aportaram os navegadores portugueses, em 1500. Pois, parece incrível, mas hoje 90% do paisagismo da cidade é composto por espécies exóticas, ou seja, de origem estrangeira. Planejando contribuir para alterar esse quadro, a empresa Reserva das Águas – Reserva Votorantim está assumindo o gerenciamento do paisagismo de 13,5 km nas margens do rio Pinheiros, área que vai reflorestar com plantas de espécies nativas, como as frutíferas cambuci, pitangueira e araçá, além de manacás, ipês e o palmito jussara.

O anúncio foi feito na manhã desta quinta-feira, 06, na sede do Projeto Pomar Urbano, na zona sul de São Paulo, em evento em que participaram autoridades como o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado, Marcos Penido, e o deputado federal e ambientalista Ricardo Trípoli, idealizador da primeira versão do projeto de reflorestamento das margens do rio, inaugurado há 20 anos, e que representou o prefeito Bruno Covas na cerimônia; além de executivos da EMAE – Empresa Metropolitana de Água e Energia, da Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo e da outra empresa privada que está “adotando” uma área do Pomar, a Vivo, entre outros.

A Legado das Águas ficará responsável pelo lado oeste do rio, no sentido Castelo Branco/Interlagos, onde deve plantar 30 mil exemplares de mais de 30 espécies, sendo que as plantas foram cultivadas em seu viveiro, na região de Juquiá e Tapiraí, sudoeste do estado. O investimento nos cinco anos que prevê o contrato do Banco Votorantim e da Votorantim S.A. com o governo do Estado é de R$ 2,5 milhões, anuncia o diretor das Reservas Votorantim David Canassa.

“Praia do paulistano”

“Com esta obra, pretendemos resgatar a autoestima do paulista e do povo paulistano”, afirma Canassa, que considera “uma oportunidade histórica resgatar um rio que deveria ser a praia do paulistano e em cujo entorno viviam muitas aves, entre outros animais silvestres”. “Nossa ideia é tornar o rio vivo, trazendo a população para cá, para passeios de bicicleta, a pé, de patinete… Enfim, que a área se transforme em um parque e a população crie uma relação de legitimidade com a cidade”, diz Canassa.

Segundo o executivo da Votorantim, estudos feitos em cidade europeias que conseguiram revitalizar seus rios mostram que a integração com a natureza torna as pessoas mais saudáveis e felizes, com reflexos positivos no PIB local.O botânico e paisagista Ricardo Cardim, que assina o projeto do “novo Pomar”, explica que o diferencial da proposta da Legado para o Pomar está no planejamento, para reproduzir a dinâmica da floresta tropical em pequena escala, alternando o plantio de arbustos com pequenos bosques. 

“ilhas” de poluição afetam o rio Pinheiros

Ele diz que a proposta técnica levou em consideração o uso de espécies que favorecem o retorno dos pássaros à área, propiciem conforto térmico, filtrem a micropoluição proveniente da queima do óleo dos motores dos veículos que transitam na Marginal, e ainda reduzem a necessidade de manutenção, poda e rega. “Futuramente, o custo para a manutenção do jardim não será um problema do tipo que incentiva o abandono de áreas verdes da cidade”, assegura.

Para favorecer a fauna, o trecho se interliga a outros fragmentos de mata nativa da cidade, transformando-se em um corredor aéreo ecológico, especialmente para as aves, essenciais para a polinização e a dispersão de sementes, e para o controle de pragas urbanas, como ratos, baratas e cupins.

O sonho de Cardim com o projeto é que as próximas gerações possam tomar suco de Cambuci, fruta de árvore que já foi tão emblemática na cidade que deu até nome a um de seus bairros e hoje contabiliza apenas dez indivíduos na metrópole.

Quanto à limpeza da água do rio, o secretário Marcos Penido garantiu o seu compromisso com o cumprimento da meta anunciada na véspera, Dia do Meio Ambiente, pelo governador João Dória, de despoluir o rio até o final de 2022. E pediu que a população faça a sua parte, não jogando lixo e outros desejos nas ruas e no rio. Com relação a esse ponto, anunciou projeto de educação ambiental para, entre outras coisas, conscientizar a população do entorno sobre a importância da preservação do ambiente e da limpeza do rio.