Mal começamos a conversar e Maria Elena Pereira Johannpeter, fundadora e presidente da Parceiros Voluntários, já pega o smartphone para me mostrar um de seus últimos achados: o vídeo da canção interpretada pela americana Beyoncé. “Esta música diz muito sobre nosso. Trabalho”, conta. “Pois mistura propósito de vida com o desejo de deixar um legado.” A canção, de fato, é tocante e ganha um tom marcante na impecável interpretação da diva do Rithym&Blues (R&B).
Maria Elena tem um jeito objetivo de enxergar a vida, os negócios e seu papel como fundadora e líder de uma das ONGs mais influentes do Brasil, apesar de lidar com uma das facetas mais desafiantes do chamado Terceiro Setor, o voluntariado e a qualificação da gestão de ONGs. É que, em tese, os resultados dependem muito mais dos beneficiários do que o trabalho propriamente feito pela equipe comandada por ela.
Mas tudo indica que Maria Elena escolheu esta área exatamente pela dificuldade e os desafios que apresentariam pelo caminho. O começo foi mais na base da intuição do que qualquer outra coisa. Em dezembro de 1996, Maria Elena foi a um programa de TV e convocou os gaúchos a aderir a iniciativas de voluntariado em ONGs. “No período de verão, tradicionalmente, a cidade fica vazia. Então, pensei que algumas poucas pessoas iriam aparecer”, recorda.
Mas não foi o que aconteceu.
No dia seguinte, ao chegar ao prédio que abriga até hoje a sede da ONG, ela levou um tremendo susto, ao dar de cara com uma multidão que formava uma interminável fila que dava volta no quarteirão. De imediato, a fundadora da Parceiros, como ela e a equipe se referem à entidade, pensou se tratar de pessoas interessadas em participa de algum curso na Associação Comercial que ocupa diversos andares do edifício. Ou então de busca por emprego. Quando perguntou ao porteiro do que se tratava, ficou atônita: “Ele me disse o seguinte: `Lá no quinto andar tem umas mulheres que querem que o pessoal trabalhe de graça´”.
Foi aí que ela começou a descobrir que havia um desejo latente das pessoas em atuar como voluntariado. “Descemos e avisamos que apenas os cem primeiro seriam atendidos”, recorda. “Teve até bate boca na fila entre os que não foram escolhidos.”
Mas a experiência que começou com força total, se mostrou um verdadeiro desastre. Maria Elena e suas duas auxiliares, cadastraram o pessoal e começaram a mandar para creches, asilos, lares de crianças abandonadas, enfim, uma série de ONGs. Mas nada menos que cerca de 60% dos voluntários abandonaram o projeto antes de terminar o período de trabalho, enquanto outras tantas 20% não toparam receber mais ninguém.
Para Maria Elena, essa foi a senha para que ela investisse no que considera a espinha dorsal e a razão do sucesso da Parceiros: a qualificação e a obsessão pelos métodos de qualidade de gestão. Já havia conversado com Maria Elena em outras ocasiões. Em eventos sociais nos quais ela acompanhava o marido, Jorge Gerdau Johannpeter, um dos mais destacados e influentes empresários brasileiros cujo conglomerado industrial, o Grupo Gerdau, lidera o mercado de aço nas Américas, além de ter espalhado seus tentáculos pela Espanha. Também conversamos em outras ocasiões, nas quais a protagonista era ela. Numa das oportunidades, fiz uma entrevista ping-pong, para as chamadas páginas azuis da IstoÉ DINHEIRO, na qual ela me surpreendeu pelo jeito direto e franco com que falou sobre todos os temas. Da política econômica à área social. Sem medo de deixar o marido, integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Não é segredo para ninguém que Maria Elena desfruta de uma vida confortável. Tanto no aspecto social quanto financeiro. Diante disso, seria natural imaginar que ela, após a aposentadoria da Gerdau, aonde trabalhou por décadasanos como secretária executiva, e onde conheceu o segundo atual marido, optasse por curtir as coisas as da vida e cuidar dos netinhos. Mas nenhuma destas opções jamais passou por sua cabeça. Adepta do espiritismo, Maria Elena fala com tranquilidade sobre o que considera uma missão de vida. Lembra da canção de Beoncé (???) citada na abertura deste texto? Então, esta é a senha para o que move essa empreendedora sustentável. “O que me conduz e o que fazemos aqui não tem relação com as mazelas sociais. O que queremos é ajudar a promover o desenvolvimento humano.”, explica. “E isso vale para o Brasil, para a Suíça, a Suécia, a Alemanha e também para países carentes como o Brasil.”
Na visão e no ideário de Maria Elena, o sentido do trabalho voluntário é colocar à disposição da sociedade um conjunto de saberes apreendidos ao longo da vida. Mas, e o que as pessoas ganham com isso? “O desenvolvimento humano é o ganho subjetivo deste processo. É uma das consequências de todo o processo.” Para a fundadora da Parceiros, a atuação no Terceiro Setor não pode ser visto como um lenitivo para as pessoas, muito menos uma forma de ocupar as brechas na política de cobertor curto, que caracteriza países com o nível de desigualdade como é o caso do Brasil.
Para evitar os problemas do início (no qual os voluntários se frustraram com seu reduzido grau de protagonismo nas entidades, quanto das ONGs beneficiadas que reclamavam da ingerência excessiva dos voluntários) Maria Elena decidiu começar qualificando sua própria ONG antes de pensar em ajudar às demais.