Obras de toda uma vida

Quem é: Carina Guedes

Porque é importante: comanda o projeto Arquitetura na Periferia que ajuda a melhorar as condições de moradia de famílias de baixa renda

Experimente, caro leitor, perguntar a algumas pessoas que cruzarem seu caminho qual é o grande sonho da vida delas. Sem medo de errar, poderíamos dizer que a maioria esmagadora dos interlocutores diria que é adquirir a casa própria. De fato, o tema habitação está no topo das prioridades dos chefes de família. E é fácil entender o porquê. O Brasil possui um déficit habitacional de 6,2 milhões de moradia. Além disso, muitos dos que possuem um teto sobre suas cabeças vivem em condições precárias e, muitas vezes, insalubres. São cerca de 15 milhões de moradias precárias, apenas nas regiões metropolitanas das maiores capitais. E é esse contingente que está no radar da arquiteta Carina Guedes, 33 anos, criadora do projeto Arquitetura na Periferia, focado nas áreas mais pobres da rica Belo Horizonte (MG).

Tudo começou no processo em 2013, quando estava envolvida com atese de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Percebi que meu trabalho poderia ganhar uma dimensão maior se conseguisse desenvolver uma metodologia para atender os moradores da periferia”, conta. “Afinal, muitas pessoas gastam mais do que deveriam n, em recursos e tempo, nas obras em suas casas em função do improviso e da falta de gestão da obra”.

O trabalho da Arquitetos na Periferia é focado na mulher e tem como fio condutor a capacitação desta mão de obra para realizar todas as etapas de uma obra. Iniciado formalmente em 2015, o programa já beneficiou 17 famílias da comunidade Ocupação Dandara, situada no bairro Céu Azul, região Noroeste da capital mineira.

“De imediato, ensinamos a importância do planejamento”, diz. “A partir daí, entram as oficinas de técnicas de construção e de gestão da obra”. Encerrada esta etapa, cada uma das selecionadas recebe um empréstimo de R$ 3 mil, destinado à compra de insumos. O trabalho é feito no esquema de mutirão e sempre liderado pela mulher. Ao atuar em grupo, elas conseguem reforçar os laços de amizade e o senso comunitário.

Na primeira fase do projeto, quando ainda estava na universidade, Carina usou parte da bolsa de pesquisa para bancar o projeto. Sua atuação acabou chamando a atenção da ONG Brazil Foundation, baseada em Nova York e focada na promoção de iniciativas ligadas à baixa renda. Foi graças a esta parceria que ela, hoje, consegue se dedicar exclusivamente ao trabalho que utiliza a personalidade jurídica da ONG Arquitetos Sem Fronteira. “A maioria dos integrantes do Arquitetura na Periferia atuam de forma voluntária”, conta.

Para ampliar a base de beneficiadas e garantir a sustentabilidade do projeto, Carina aderiu à campanha Abrace, lançada pela plataforma Brazil Foundation. Trata-se de uma espécie de vaquinha virtual, na qual cada uma das ONGs beneficiadas pela instituição colocam sua demanda. No caso da Arquitetura na Periferia, a expectativa é arrecadar R$ 40 mil. Esta verba contempla o atendimento a 10 mulheres (o que equivale a cerca de 50 pessoas), a elaboração da Cartilha de Construção e a implantação de workshops de construção para mulheres, no esquema faça você mesmo. Esta última atividade será paga e terá como foco os integrantes das classes A e B, interessados na cultura maker.

Carina tem plena consciência de que o problema habitacional do Brasil não vai se resolver com ações pontuais. Por isso mesmo, enxerga a sistematização de uma metodologia replicável, de baixo custo de implementação e facilmente assimilável por leigos, como uma das alavancas capazes de dirimir o problema. “O direito básico da moradia é criminalizado no Brasil”.