Protagonismo sertanejo

Quem é: Wagner Gomes

Porque é importante: fundou a ADEL, agência que trabalha pelo desenvolvimento local dos municípios do semiárido do Ceará

A seca e suas consequências deletérias sobre a saúde das pessoas e a economia das cidades afetadas, sempre rondou a vida do cearense Wagner Gomes, de 32 anos. Nascido em Apuiarés, ele sentiu na pele o que é uma vida de privações na qual classificar a água como um bem precioso ia muito além da figura de retórica. Mas em meio a um cenário de desolação, Wagner sempre enxergou grandes oportunidades de negócios com potencial de resgatar a economia do sertão. Foi com isso em mente que ele criou, em 2007, a Agência de Desenvolvimento Local (ADEL). "As pessoas, em geral, e a mídia, em particular, sempre colocaram luzes sobre a pobreza do semiárido", diz. "Mas para mim sempre se tratou de uma terra de oportunidades e de muitas riquezas."

Em apenas sete anos, Wagner e seus parceiros já têm muitas coisas para mostrar. Dois de seus mais vistosos projetos são a associação de produção de mel e a unidade especializada no processamento de carne de caprinos, gerando valor agregado aos produtores rurais. No total são beneficiados cerca de 500 pequenos agricultores, de 72 comunidades. As lições são passadas por jovens que, assim como ele, conhecem a realidade local. "Isso lhes garante a oportunidade de adicionar tecnologia ao seu processo produtivo, com custos bastante baixos", explica. "Pesquisei as experiências da Espanha, de Portugal e de vários países da Ásia e vi que era possível desenvolver o semiárido, desde que fossem respeitadas as características de cada local." O trabalho conta com o suporte de entidades de fomento, como o Banco do Nordeste.

Wagner é cria do Projeto de Educação em Células (Prece), um cursinho pré-vestibular focado nas regiões rurais, no qual as aulas são alternadas com períodos nos quais os alunos ajudam a família na roça. Aprovado para o curso de economia na Universidade Federal do Ceará, o empreendedor foi para a capital sabendo exatamente o que iria fazer. "Vislumbrei a oportunidade de criar a ADEL no momento em que pisei na faculdade", lembra. Ele também se orgulha de nunca ter passado um final de semana sequer em Fortaleza, curtindo a praia e as baladas. Em vez disso, embarcava sexta-feira à noite para sua cidade onde atuava como professor-voluntário no Prece.

Agora, Wagner se prepara para dar seu maior passo. Ciente de que este trabalho só será efetivo, de fato, se conseguir se perenizar, ele está apostando fortemente na formação de "novos Wagner". Isso vai ser feito por meio do programa Jovem Empreendedor Rural. A ideia é que, além de disseminadores de conhecimento, os adolescentes com maior potencial se transformem em lideranças econômicas em suas comunidades. "Precisamos pensar na gestão de cooperativas e de negócios sociais com poder transformador", pontua. "E isso só pode ser feito por quem conhece a realidade local".