Sempre me pareceu difícil entender o preconceito contra imigrantes, especialmente nos países da Europa e nos Estados Unidos, que cresceram e se tornaram fortes pela diversidade de repertórios e saberes trazidos por pessoas de diferentes origens. Alguém imagina a cultura espanhola sem a música e outras tradições ciganas da Andaluzia? Ou a culinária de Nova York sem as cantinas italianas que saíram da acanhada Little Italy, em Manhattan, para dominar o país? Ou Veneza sem a arquitetura moura que lhe impõe um ar de mistério e beleza ainda maior, aos olhos de quem navega pelo Grand Canal? Ou a música britânica sem a batida dos ritmos caribenhos?
A imigração é, antes de mais nada, um fenômeno econômico-social e como tal deve ser pensada de forma inteligente. Principalmente em países maduros, nos quais o crescimento da população se dá de forma negativa.
Existem inúmeros exemplos de pequenas vilas e municípios que estão morrendo na Europa. Nos Estados Unidos, o exemplo mais marcante é o de Detroit, cidade que já foi a capital mundial do automóvel, e hoje agoniza em dívidas e problemas de gestão causados pelo êxodo acentuado de seus moradores.
Nesses locais, a imigração poderia ser a solução. Afinal, o discurso xenófobo se apoia em bases frágeis e muitas vezes canalhas, sem qualquer conexão com a realidade.
O discurso surrado fala no “roubo de postos de trabalho”. Ora, se os imigrantes sumirem de Los Angeles quem ficará para fazer a faxina no escritórios? (lembre-se do ótimo filme Pão e Rosas, de Ken Loach). O mesmo já vale no Brasil, onde os serviços pesados nas plataformas de petróleo são realizados, faz tempo, por imigrantes indianos, filipinos e paquistaneses.
Boas-vindas
Porém, mais que fazer serviços de baixa qualificação, o imigrante também pode ser muitas vezes decisivo. Foi a evasão de cérebros da Alemanha hitlerista que ajudou a acelerar o programa espacial americano. Pois é neste contexto que devemos saudar a iniciativa do governo da cidade de Dayton, em Ohio, EUA. Há dois anos, a administração local enxerga na imigração uma chance de voltar a brilhar.
A metodologia para atração de imigrantes foi sistematizada pelo advogado Richard Herman, que assessora boa parte das prefeituras do Meio-Oeste (equivalente à região Centro-Oeste do Brasil) nesta tarefa. Dayton criou uma legislação mais amigável, batizada de “Boas-vindas a Dayton”, que prevê educação, imersão na cultura e facilidades concretas que fariam diferença na integração do imigrante à vida local.
Tudo, menos dinheiro.
Essa experiência é contada, em parte, em uma reportagem publicada recentemente na versão em português do site do jornal The New York Times e mostra que melhor do que se lamuriar pelos velhos tempos é investir no futuro. Com sustentabilidade econômica e social.