
A minha primeira lição sobre produção orgânica foi em um festival de teatro.Na época eu não imaginava que me tornaria agricultora, mas em uma palestra do chef Alex Atala, no Gastronomix, evento que integra o Festival de Teatro de Curitiba, uma fala me marcou. Ao responder a uma pergunta sobre incluir orgânicos no cardápio de seus restaurantes ele disse: “Se for bonito, eu incluo. Nos pratos que eu sirvo, os ingredientes têm que ser bonitos, apresentáveis”.
Mesmo sem saber, foi o meu primeiro aprendizado. E apesar de ainda existir uma certa condescendência com a aparência dos alimentos orgânicos, ela é cada vez menor.
Na BioFach (BioBrazil Fair) de 2019, feira que discute o mercado orgânico, o diretor de uma rede de hortifrúti foi taxativo sobre qualidade. Para entrar nas lojas da rede, é necessário que o produto orgânico tenha qualidade, seja bonito e apresentável. Como não deixaria de ser, gerou polêmica. Ninguém questiona a qualidade nutricional dos alimentos orgânicos, mas a necessidade de ser bonito, sim.
Qualidade sempre foi uma exigência no meu trabalho como jornalista/assessora de imprensa. E é claro que, como produtora, eu persigo essa qualidade. Até acertar a mão, leva um tempo. Consigo produzir mangas de excelente qualidade, já o maracujá, ficou muito aquém da expectativa. Mas, por que na minha opinião a qualidade é importante? Primeiro porque eu tenho satisfação de ter um produto bonito e, segundo, porque ele tem um tempo de prateleira maior. Os defeitos na casca fazem com que o alimento estrague mais rápido.
Produzir com qualidade exige conhecimento técnico e a agricultura tem uma linguagem própria. Confesso que iniciei a produção orgânica “analfabeta” e, até as informações começarem a fazer sinapses, levou um tempo. Hoje eu já consigo “ler um livro infantil”, e estou bem busca da envergadura necessária para “ler um clássico”.
É relativamente fácil identificar o caminho a trilhar: cultivar o solo, torná-lo vivo. Em um solo saudável, as plantas serão saudáveis, estarão menos sujeitas ao ataque de pragas e doenças e, por sua vez, produzem alimentos de qualidade e mais saborosos.
O problema é o como. Como chegar a um solo vivo, saudável? O que fazer quando as folhas das plantas amarelam, as flores não se transformam em frutos e as plantas são atacadas por todos os insetos que você já viu e outros que você nem imaginava existir?

Sim, no início é necessário pegar alguns atalhos. Muitas vezes é preciso estar mais próximo das práticas da agricultura convencional, substituindo insumos tóxicos pelos permitidos na produção orgânica, até que o trabalho de cultivar o solo para torná-lo vivo e saudável seja realizado em paralelo.
É extensa a lista de cursos e eventos aos quais eu já fui (e ainda vou) em busca de informações e respostas. Cada um deles agrega um pouco. O primeiro evento que eu fui e que as informações se encaixaram perfeitamente e responderam a muitos dos meus questionamentos sobre “como fazer?” foi o 1° Encontro de Tecnologias Sustentáveis para a Agricultura, realizado no campus da Unesp, em Jaboticabal (SP), em julho de 2019. Todo agricultor iniciante deveria ter a oportunidade de ir a um encontro desses. Um evento motivado pelo idealismo de seus organizadores, os fundadores das empresas Homeopatia Rural e Alfa Agrotec.
E o idealismo é uma das muitas particularidades que o universo orgânico tem de bom. É isso que, na minha opinião, especialmente nestes tempos tão duros que estamos vivendo, nos faz ter fé e esperança em dias melhores. Claro, não vamos ser idealistas a ponto de esquecer que é um negócio, e como qualquer outro negócio precisa ser rentável e gerar lucros sustentáveis. Mas as pessoas que atuam neste universo fazem toda a diferença.
Eu estou apenas no início. Em busca da “alfabetização” tão necessária, e me esforço para implementar as práticas que levam a um solo vivo e saudável. Nesta busca, conheci muitas pessoas que me estenderam a mão e me ajudam a alcançar os meus objetivos. E eu vejo isso acontecendo o tempo todo, não só comigo, mas para cada lado que eu olho. A forma de pensar, a união e a colaboração entre as pessoas é uma das fortalezas do universo orgânico. Eu acredito que seja isso que faz o alimento orgânico avançar e ocupar cada vez mais espaço nas gôndolas dos supermercados e na mesa do consumidor.
