Consumo com bônus ambiental

Parceira entre a Fox e a Enel deve ampliar a reciclagem de geladeiras, em SP

O ano de 2010 é lembrado por ecologistas brasileiros como um ponto de inflexão na questão ambiental. Afinal, foi a partir deste ano que começou a vigorar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que, em linhas gerais, previa uma transformação radical na forma como cidadãos, órgãos públicos e empresas passariam a se relacionar com o que se convencionou chamar de lixo. A legislação colocou prazo para o fim dos lixões e introduziu a figura da logística reversa que, na prática, igualava o Brasil aos países mais desenvolvidos e sustentáveis do planeta. Com o fantástico bônus de abrir espaço para mais um setor de negócios: a indústria da reciclagem.

Uma das primeiras a acreditar nesta espécie de “canto da sereia” foi a Indústria Fox, especializada em reciclagem de refrigeradores, baseada em Cabreúva, cidade do interior do estado de São Paulo, distante 80 km da capital. “Chegamos a dominar 80% deste segmento, em 2014, quando processamos 150 mil refrigeradores e faturamos R$ 50 milhões”, conta o engenheiro Phillipp Bohr, cofundador da empresa. A Fox foi criada a partir de uma linha de crédito no valor de 12 milhões de francos suíços (cerca de R$ 47 milhões) concedida pela Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica (SDC), no âmbito da Iniciativa Suíça de Proteção Climática.

A falta de uma articulação entre os diversos setores empresariais e a dificuldade do governo em reconhecer a necessidade de uma política fiscal específica para o setor acabaram transformando a PNRS em mais uma lei que “não pega”. Exemplo: um de seus artigos previa que os municípios deveriam ter acabado com todos os lixões até 2014. Contudo, 2.976 locais do tipo resistem bravamente até hoje! A ausência de regras coercitivas para que as indústrias deem conta da logística reversa enfraqueceu o setor de reciclagem. No ano passado, a Fox, viu sua receita cair em cerca de 30%, para R$ 35 milhões.

Para dar uma guinada, a empresa decidiu ampliar seu escopo de atuação, passando a atuar também no segmento varejista de venda de geladeiras e aparelhos de ar-condicionado remanufaturados, além de lâmpadas de LED. O foco são os clientes da base da pirâmide, que possuem equipamentos muito antigos e que consomem bastante energia. “No caso da geladeira, o equipamento se paga apenas com a economia na conta de luz”, diz Phillipp. Para popularizar o negócio, a Fox fechou uma parceria com o Esporte Club Corinthians. As vendas são feitas pela internet, e o cliente só faz o pagamento depois que recebe o produto.

Essa vertente deverá crescer ainda mais, em função do acordo assinado com a Enel, concessionária de energia elétrica da Grande São Paulo. A parceria prevê a concessão de bônus de até R$ 700 para os clientes que aderirem ao Projeto TudoBônus comprando o kit composto de refrigerador e seis lâmpadas de LED. O saldo, que depende do modelo de geladeira escolhido, pode ser parcelado em até 12 prestações.

Com isso, o cofundador da Indústria Fox espera dinamizar o negócio que o fez trocar a sua terra natal, a Alemanha, pelo Brasil, onde já fincou raízes e até domina o idioma, apesar de ter conservado um leve sotaque. “Nossa expectativa é que, a partir do bônus, consigamos dobrar nossas receitas”, diz o otimista Phillipp. Mais do que ampliar o faturamento, o empreendedor espera dar um novo gás na linha de produção, que nunca atuou nem perto da capacidade instala de 400 mil unidades, por ano. "Hoje, ganhamos mais dinheiro com serviços de logística e gestão de resíduos do que com a reciclagem de geladeiras”.