Parque Augusta. Ver para crer

Ativistas ambientais são pessoas incansáveis. E as pessoas que militam pela manutenção das áreas verdes na região metropolitana de São Paulo não são diferentes. Nesta quinta-feira (4/8) eles comemoram, com alguma desconfiança, o anúncio de que parte do dinheiro que chega aos cofres públicos da Prefeitura da capital, via imbróglio “Maluf”, será usado para a abertura do Parque Augusta.

Ontem, em coletiva, o prefeito Fernando Haddad (PT) e promotores de Justiça que firmaram acordo com bancos estrangeiros anunciaram o depósito de US$ 25 milhões (cerca de R$ 80 milhões) originários do Citibank N.A, dos Estados Unidos, e do UBS AG Zurich, da Suíça. O pagamento se refere aos danos morais coletivos em razão das movimentações financeiras nestes bancos, ligadas ao ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e seus familiares. Ou seja: as instituições abrigavam dinheiro que vinha dos desvios de verbas de obras públicas como a Avenida Água Espraiada e o Túnel Ayrton Senna.

Os ativistas celebram, mas com receio. Foram anos de disputa, ou melhor, décadas, que envolvem construtoras, moradores da região, ativistas ambientais e até as freiras que ali ensinavam quando existia uma escola tradicional no local – nas imediações das Ruas Augusta e Consolação, região central do município.

“Tenho que ver (no Diário Oficial) para crer”, brinca dona Ana Dulce Pitan Maraschin, de 82 anos, moradora da região e ativista ferrenha do Parque Augusta. Heber Biella, que registra em imagens tudo o que acontece no entorno do Augusta, lembra que em dezembro de 2013 Haddad sancionou uma lei que nunca foi cumprida (Lei 15.941). “Ele criou o parque e, quatro dias depois, as construtoras fecharam o parque. Um lugar que estava sempre aberto!”

Biella também teme que as construtoras proprietárias do local, como a Setin, não se interessem em vender o terreno à Prefeitura. Ou o comercializem a um preço muito alto. “Também tem que lembrar que é ano de eleição, e o Haddad teve a última campanha financiada por empreiteiras.”

Enquanto o anúncio não é feito no Diário Oficial, o grupo de ativistas faz o que sabe: defender a área. Para esta quinta-feira, está programado um abraço em volta do Augusta. Curiosamente, os convocados para a ação na rua foram crianças que estudam na EMEI Gabriel Prestes, ali perto, na Consolação.

90% pra cidade
Os acordos foram firmados pelos promotores Silvio Marques, José Carlos Blat, Valter Santin e Karyna Mori, com posterior homologação pelo Conselho Superior do Ministério Público e pela 13ª Vara da Fazenda Pública da Capital. Do total pago pelos bancos estrangeiros, 90% se destinam ao município. O restante foi revertido ao Fundo de Interesses Difusos, Fundo Estadual de Perícias e à Fazenda do Estado de São Paulo.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do MP-SP