Em meados de março, uma reportagem publicada na seção Design no portal da revista americana Fast Company, a bíblia dos moderninhos, mostrou que os desafios relacionados à mobilidade urbana são ainda mais graves do que parecem à primeira vista: “O Custo do Urbanismo Equivocado: US$ 1 Trilhão, por Ano”. Lendo o texto (na versão original aqui) fica evidente que fracassou o modelo urbanístico adotado nos último 50 anos, baseado em condomínios encravados nas franjas das grandes cidades. Não apenas por seu caráter excludente, como também pelo altíssimo custo que ele impõe à sociedade como um todo.
A reportagem usa como base uma pesquisa do Instituto Vitória de Política de Transportes, que esquadrinhou a cadeia de impactos decorrentes dessas verdadeiras ilhas da fantasia, que receberam polpudos incentivos fiscais, nos EUA, ao longo das últimas três décadas. E boa parte da conta está diretamente ligada aos deslocamentos dos moradores, em direção ao trabalho ou para atividades de lazer, como também para a sociedade como um todo .
O balanço final é interessante. Nada menos que 60% da cifra de US$ 1 trilhão são debitados do bolso dos moradores destas áreas, que passam a ter custos maiores com combustível e manutenção de veículos, além do pagamento para a implantação e manutenção de serviços básicos (segurança, energia e água encanada, por exemplo) em áreas remotas. O restante é o que toda a sociedade paga, em função do maior número de carros circulando e dos problemas de saúde ligados à poluição.
Desconheço estudos semelhantes no Brasil, onde o inchaço das capitais também acabou incentivando a construção de mega-condomínios horizontais nas franjas das cidades. Isso vale para São Paulo e Rio de Janeiro, como também para Belo Horizonte, Fortaleza e até mesmo Goiânia que, teoricamente, não deveria sofrer da escassez de terrenos na área urbana.
Para muitos brasileiros, a ilusão de resgatar uma vida bucólica em contato com a natureza parece compensar o esforço de ficar até três horas por dia dentro de um carro.
Contudo, toda opção embute um custo. Desde 2002, a Fundação Getúlio Vargas mede os efeitos financeiros da imobilidade urbana em São Paulo. A conta começou em R$ 17 bilhões e saltou para assutadores R$ 40 bilhões em 2012.
Neste caso, trata-se de um prejuízo bastante democrático pois atinge pobres e ricos, motoristas de carrões e de modestos veículos populares comprados em 60 prestações. Passando pelos usuários de trem, de metrô e de ônibus. É que a maior fatia dessa bolada se refere ao custo de tratamento de saúde imposto ao sistema público por doenças relacionadas às emissões de gases tóxicos, como o dióxido de carbono (CO2). Sem contar que ficar parado no trânsito rouba de paulistanos e cariocas nada menos do que 12 dias por ano!
Mas até quando vamos conseguir pagar esta conta?
Difícil saber. No entanto, é certo que o uso intensivo do automóvel vem sendo cada vez mais questionado. Mesmo quando lembramos que apenas a cidade de São Paulo adotou o rodízio de veículos – que tira a cada dia, nos horários de pico da manhã e da tarde, cerca de 20% da frota, de acordo com o número final da placa.
Mas a contínua saturação do trânsito e o aumento do custo associado ao transporte individual terão uma força cada vez maior na definição do novo papel, em nossa sociedade, do automóvel movido a combustível fóssil. Até porque, do jeio que está, não dá.
“As cidades foram construídas em torno de um modelo urbano que privilegia o automóvel”, critica Tito Caloi, dono da Tito Bikes. Para ele, a melhoria da mobilidade, e por extensão, da saúde dos centos urbanos, deve partir de um planejamento que privilegie o que cada opção de transporte tem de mais sustentável.
Na série de reportagens e artigos que compõem o especial Mobilidade Urbana 2016 vamos mostrar como que o tema tem sido tratado no Brasil e no mundo. E, claro, falamos também de iniciativas que têm por objetivo minorar ou até mesmo resolver o problema.
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