Apareceu em todos jornais e portais nas últimas semanas: artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque querem barrar biografias não autorizadas. Teve muito bla bla bla, mas o que me chamou a atenção foi uma frase dita pela empresária Paula Lavigne no programa Saia Justa (GNT) na semana passada. Paula é porta-voz da associação Procure Saber, que reúne esses e outros artistas. Ela compareceu ao programa para defender suas ideias e, lá pelas tantas, falou que toda a questão se divide entre dois princípios, o da liberdade de expressão e o da intimidade.
Paula, eu acho que a sua batalha está perdida. Porém, desde que te ouvi, estou pensando nessa tal intimidade – na que diz respeito mais aos cidadãos comuns e menos às celebridades.
Tem quem passe o dia relatando detalhes da sua vida. Aonde vai, aonde foi, aonde gostaria de ir, se está trabalhando pouco, muito, se está em férias. Como come, o que come, se está feliz, se está chateado, se está bravo. Se o dia está quente, se é sábado, se foi passear com o cachorro.
Não há mal nenhum nisso, é o tal compartilhamento na timeline que poderia ser feito com vizinhos em um passeio pelo bairro. Eu também faço isso, talvez com mais parcimônia que a média, mas… Tem um “mas” considerável nesta história.
Há uma linha frágil dividindo o que é razoável do que não é. É difícil estabelecê-la. É um limite que não resulta da prática, porque, me parece, a prática afrouxa a autocensura na hora de compartilhar.
Pensamos que o mural é nosso. Não é. O que escrevemos é visto por centenas de pessoas que podem estar mostrando para outras centenas – isso sem contar os anunciantes antenados nos nossos gostos. O que dizemos ou postamos de outras pessoas também sai das nossas mãos e vira conteúdo em outras telas de computador, de tablets, smartphones. Estamos espalhando histórias, muitas vezes sem fundamento (já falei sobre isso aqui).
Mas não é o falar mal da vida alheia que mais me preocupa. Se divulgamos boatos sobre adultos, em tese eles têm a capacidade de se defender. O que tem me afligido é ver pais postando toda a trajetória de vida dos filhos na internet.
“Pai, é muito mico”
Entendo que facilita a vida dividir o crescimento da criança com parentes e amigos pela Internet. Assim como escolhemos o que comem, onde estudam e passam as férias, também selecionamos as imagens deles que serão reveladas.
Ocorre que nossos filhos pequenos não têm como optar se querem aparecer ou não. Eles não sabem se concordam com isso. Eles são bebês, ou muito pequenos para nos desautorizar.
Eles nunca dirão: “Pai, essa não, é muito mico”, pois não têm capacidade para tal. Então, por isso, vamos continuar publicando? Não tenho uma resposta definitiva para essa questão.
Aqui em casa, há anos a nossa regra é pela não publicação de imagem dos filhos. Uma vez ou outra publiquei, porque sucumbi à vontade irresistível de compartilhar a deliciosa experiência de ser mãe.
Depois, com apoio do meu marido, retornei ao argumento: e se ela não quiser ver isso no futuro? Não estou pensando em bandidos ou tarados, vejam bem, mas simplesmente na criança. E se ela não quiser sua intimidade exposta?
Não sei se estou exagerando na minha análise. Talvez eu esteja sendo radical, precavida em excesso. Outras pessoas pensam como nós, e elas começaram a expor suas ideias sobre o assunto (no Gizmodo e no Para Entender Direito – dois sites que 1 Papo Reto curte muito).
Não sei como será no futuro o conceito de intimidade para os nativos digitais, mas num mundo de super exposição voluntária, eu vou continuar preservando a nossa intimidade.