Saldão de notas

No mês de novembro ocorre o “saldão maluco” de notas na rede pública. Nessa época a escola vira uma loja, o professor, um vendedor, e o coordenador pedagógico, gerente. Todas essas transformações não são promovidas pelas festas de final de ano, mas sim em razão do Saresp. Saresp, Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, é uma avaliação externa em larga escala da educação básica, aplicada a cada ano desde 1996 pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O exame também serve de base para o pagamento de gratificação por resultados a funcionários das escolas.

Tudo é válido para não perder o cliente/aluno, e assim como o bônus, a liquidação de notas é grande. A toda e qualquer avaliação a recomendação da gerência/coordenação é o preço mínimo: a nota 5 (cinco). O objetivo é elevar ao máximo a queima de reprovação, tendo em vista a quantidade de aprovação que será revertida em números para bonificação.

O desespero para conseguir o bônus é tanto, que se chega ao cúmulo de fraudar a prova. De acordo com o Ministério Público, a escola Estadual Reverendo Augusto da Silva, de Sorocaba, é suspeita de fraudar o Saresp. Os professores são acusados de ajudar os alunos durante as provas em 2011. O desempenho da escola, que já foi considerado “avançado”, com a nota 9,3, caiu para “prioritário”, com a nota de 2,63, obtida no ano passado.

O que leva os profissionais da educação a tal conduta? Má fé, falta de comprometimento? Não. A raiz do problema está na falta de valorização do profissional. A desvalorização do profissional e as condições de trabalho são tão ruins, que uma bonificação é vista como um “pote de ouro”, ou seja, uma possibilidade de aumentar o ganho.

Nada justifica a conduta errada de alguns professores, porém nenhum projeto de ensino que se preze vai dar certo sem valorizar o professor. É possível fazer uma omelete sem ovos? Não! O raciocínio também é válido para o ensino. Não é possível melhorar a qualidade do ensino sem valorizar o professor, com salário digno, condições de trabalho adequadas, turmas menores e tempo para estudar. Tão simples, né?

É muito triste ver como o projeto de melhoria do ensino público do estado de São Paulo vai na contramão da valorização do profissional de educação. O governo quer melhorar o rendimento dos estudantes, mas não faz nada em prol dos professores.

O Saresp, Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, poderia ser uma ferramenta valiosíssima para se entender a realidade do ensino no estado de São Paulo. O que deu certo e o que não deu? E o que fazer para melhorar? O cruzamento das informações obtidas pelo Saresp seria fundamental não só para responder a essas questões como também direcionar os projetos de ensino.

Entretanto, a maneira como o Saresp está implementado faz dele um sistema de escambo, de troca, no qual as escolas dão ao governo os números que ele necessita e, em troca, o governo dá a bonificação a elas. Eis o escambo do ensino, infelizmente.