Existem diversas maneiras de se chegar a Mairiporã, cidade da Grande São Paulo. A mais fácil e rápida é pela rodovia Fernão Dias, batizada com o nome de um dos paulistas que seguiu para o interior do Brasil em busca de riquezas, na época colonial. A outra, muito mais divertida, é pelas estradas tortuosas que circundam o Parque da Cantareira, situado no extremo norte da cidade de São Paulo.
Escolhi a segunda opção assim que saí de casa e programei no Waze o roteiro para ir acompanhar o evento de limpeza da represa Paulo de Paiva Castro, situada dentro do Parque Estadual do Juquery e que integra a série de seis depósitos de água do Sistema Cantareira.
É praticamente impossível fixar os olhos na estrada enquanto passamos ao lado de inúmeros cursos d`água e de uma flora exuberante composta de exemplares da Mata Atlântica. Contudo, é triste descobrir que a cada evento como o de hoje (22/3) são recolhidos, em sacos pretos, entre seis e 10 toneladas de resíduos sólidos em diversos pontos da represa.
São garrafas PET, sacos plásticos, aparas de papelão, latas de aço, restos de material de pesca (rede, puçá e isopor)… Enfim, toda sorte de objetos que jamais deveriam ter ido parar dentro da represa. “Passamos do momento da conscientização sobre a importância de se proteger a natureza. Agora, chegou a hora da ação”, diz o geógrafo Francisco de Assis Honda, gestor do Parque Parque Estadual do Juquery.
Nesta tarefa, ele conta com o auxílio de muitos voluntários. A turma é liderada pelo chef de cozinha Idolo Giusti. O mutirão de limpeza acontece em duas datas icônicas: 22 de março, Dia Mundial da Água, e 19 de setembro, Dia Mundial da Limpeza da Água. Ao longo das 12 edições, iniciadas em 2011, o chef vai adicionando novos atrativos ao evento, como forma de potencializar a ação.
Neste ano, ele convocou um invejável time de colegas de profissão, sob o comando da chef Danielle Dahoui, dona do Ruella Bistrô e apresentadora da última edição do HellsKitchen. Coube a essa turma preparar o verdadeiro banquete servidos aos voluntários, agentes públicos e convidados do evento. Mas ninguém escapa do “trabalho pesado”.
Pela manhã, ambientalistas liderados pelo grupo Piratas, de canoagem, fizeram inúmeras incursões nos diversos pontos da lâmina d`água. O grupo promove passeios de canoa e stand up até para deficientes físicos. “Possuímos canoas e pranchas adaptadas. Ninguém fica sem se divertir e contemplar a natureza”, garante Victor Coelho, o chefe da turma.
Nas margens da represa atuaram homens do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar, além de funcionários do parque e moradores da região. À tarde, foi a vez dos chefs participarem da coleta sob o comando dos Piratas.
A união da gastronomia com a preservação ambiental é uma prática antiga na trajetória do chef Ídolo (sim, o nome de batismo dele é esse mesmo!) que comanda a Giusti Eventos. A influência definitiva foi do avô Mario Careca, que trabalhou a vida inteira como guarda florestal. “Saía com meu avô para abrir picadas por diversos pontos de São Paulo”, conta.
Nestas andanças, ele foi tomando gosto pela comida mateira, preparada de forma rudimentar, mas nem por isso menos saborosa. No lugar dos utensílios tradicionais (panelas e fogão, por exemplo) objetos coletados na natureza como pedras, madeiras e folhas de bananeira utilizada para embrulhar os ingredientes, que são levados para assar ou cozinhar em fornos ou fogões a lenha, cavados no solo.
Um pouco desta expertise foi usada para preparar o verdadeiro banquete servido ao final do evento. A experiência de hoje funcionou como uma espécie de treino para um ambicioso projeto social que a Giusti Eventos pretende criar em parceira com a administração do Parque.
A ideia é convidar chefs renomados para serem monitores em cursos profissionalizantes de gastronomia. “Além de qualificar os jovens, queremos colocá-los na linha de frente da preservação da região”, explica Ídolo. “Somente quem conhece pode se comprometer com a preservação.”
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*Texto atualizado às 20h20min
