Gastronomia com sustentabilidade

Por Maílson da Silva

Na quinta-feira 22/3, eu acordei às 4:30 da manhã, pois tinha um encontro marcado às 6h com a chefe Danielle Dahoui. Embarcamos num carro e fomos nos juntar a outros chefes engajados numa causa mais do que nobre: alimentar um batalhão de quase 200 pessoas que participariam do mutirão de limpeza da represa Paulo de Paiva Castro, último dos seis reservatórios do Sistema Cantareira, que abastece 5,3 milhões de moradores da Região Metropolitana de São Paulo.

Quem reuniu essa turma nesta empreitada foi o chef Ídolo Giusti, especialista em comida mateira que tem como mote de seu trabalho a preservação do meio ambiente. Trata-se de uma vertente da gastronomia que preserva os conhecimentos do homem da mata. As famosas PANC’s (plantas alimentícias não convencionais), por exemplo, catalogadas por este grupo vêm sendo resgatadas na culinária urbana.

Outra técnica mateira que vem ganhando adeptos na cidade é a de defumação ao ar livre, e envolve o uso de fogueiras. A utilização de armações de bambu como suporte para panelas ou recipientes de cozimento dos alimentos é outra técnica adotada por esta vertente gastronômica. Ele adquiriu esse conhecimento nas inúmeras expedições realizadas pelo Brasil e os demais países da América Latina, pelos quais passou.

Pois bem. Às 7h em ponto chegamos ao Clube da Sabesp, local onde seria feito o preparo da comida e servido o almoço. De imediato, nos deparamos com um cenário absolutamente lindo da represa. Também nos chamou a atenção a estrutura de bambus em torno de uma fogueira. Diante disso, acabamos trocando a cozinha de apoio, existente no local, pelos utensílios armados pelo chef Ídolo e embarcamos na onda mateira, para nos conectarmos ainda mais com a atmosfera e o espírito do local.

Contudo, logo ficou claro que é preciso mais do que vontade e amor à natureza para preparar uma refeição de qualidade ao ar livre. As dificuldades de controlar o fogo, os diversos insetos, especialmente as abelhas, que são atraídos pelo cheiro da comida, e o sol na cabeça, não são empecilhos tão grandes quanto a satisfação de comer, por exemplo, uma linguiça defumada à moda antiga. Ou mesmo saborear legumes grelhados que conservam um leve toque de “aroma de lenha”. No cardápio tinha de tudo um pouco: porco e galinha caipira na grelha, tainha assada, feijão carreteiro, cenouras caramelizada com mel do cerrado, brownie de chocolate e até farofa com formiga içá.

A lista dos chefes que realizaram essa empreitada incluí Augusto Cincinato (participante do Hell’s Kitchen, apresentado no SBT), Eudes Assis (do Taioba, situado no Sertão do Camburi),  Cris Mota (vencedora do reality Hell´s Kitchen), Danielle Dahoui (primeira mulher a apresentar o Hell´s Kitchen e proprietária do Ruella bristrô), Felipe Cruz (do La Marina, situado na cidade de Guarujá, SP), Marcio Okumura (do Okumura Restaurante, de Santos, SP) e Pedro Roxo (do Manja Gastronomia). Infelizmente, o Rodrigo Oliveira (do tradicional Mocotó, de SP) não pode comparecer, mas enviou uma equipe para ajudar no evento.

Apesar de chef Danielle e o chef Ídolo ocuparem um lugar central na organização, cada chef cuidou do seu pedaço e contou com a ajuda de cada integrante da equipe em sistema de rodízio. O clima era de confraternização e camaradagem no qual os holofotes estavam direcionados para sua majestade: a natureza.

O almoço foi servido às 13h para a equipe que já havia feito o primeiro turno de limpeza, que resultou na coleta de quase quatro toneladas de lixo. O cansaço pelo trampo foi infinitamente menor do que o prazer de atuar numa causa tão nobre. Finalizado os trabalhos, embarcamos de volta para São Paulo. Muito mais energizados!

SAIBA MAIS:

Sobre o trabalho ambiental na represa Paulo de Paiva Castro