Faz tempo que o trabalho voluntário entrou na rotina dos brasileiros. Quer seja por meio de ações pontuais ligadas à remediação de catástrofes, como enchentes, ou de forma organizada e constante, encabeçado por ONGs. No mundo empresarial, a mobilização em torno de programas que beneficiam o público externo também é uma realidade. Diante disso, não chega a ser surpresa o fato de os brasileiros despontarem como a quarta nacionalidade, em ordem de importância, entre os participantes das atividades globais do Programa de Voluntariado das Nações Unidas (UNV, da sigla em inglês).
Este braço da ONU foi criado em 1970 e chegou ao Brasil em 1998. Nesta segunda-feira (18/4), a UNV deu mais um passo para o fortalecimento de seus laços com o país, ao anunciar uma parceria com a sul-coreana Samsung América Latina. O objetivo é ampliar a utilização da plataforma de voluntariado online da UNV, ajudando na disseminação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que reúnem algumas das propostas globais para reduzir o aquecimento global.
Na avaliação de Amanda Mukwashi, chefe da seção de Conhecimento Voluntário e Inovação da UNV, as parcerias com a iniciativa privada podem acelerar a implementação de medidas capazes de melhorar os indicadores ambientais, sociais e econômicos. “Faz tempo que percebemos que a atuação do setor privado era vital neste processo”, disse. “Trata-se de um ganho para os dois lados, pois uma comunidade saudável é positiva também para o ambiente de negócios.”
A expectativa é que a troca de conhecimentos e ferramentas entre voluntários de ONGs e de empresas privadas ajude na qualificação dos integrantes de comunidades mais vulneráveis, tornando-os aptos a lidar com novas tecnologias que facilitam o acesso à educação e às atividades de promoção da cidadania, por exemplo.
Nascida na Zâmbia, Amanda atua a partir do escritório baseado em Bonn, a antiga capital da Alemanha. Seu engajamento no voluntariado começou muito antes de ser contratada pelo órgão da ONU. Foi durante o período em que morou em Londres, no qual teve de trabalhar como cuidadora de idosos, porque seu diploma em direito internacional não era reconhecido no país. “Vivia infeliz, pois me sentia frustrada”, conta. “A virada em minha carreira e em minha vida aconteceu a partir de meu engajamento em causas sociais.” É que, além do trabalho noturno, durante o dia ela ajudava em uma ONG que auxiliava crianças com deficiência intelectual.
De acordo com Helvio Kanamaru, gerente sênior de Cidadania Corporativa da Samsung para América Latina, a parceria com a UNV começa por São Paulo, onde fica a sede da empresa no continente, e será expandida para as demais cidades do continente. “Nosso primeiro foco serão os funcionários da Samsung”, conta. Este contingente será encarregado de qualificar as ONGs a utilizarem os serviços online do departamento da ONU.
Apesar de depositar uma grande aposta no mundo digital, Amanda destaca que nada poderá substituir o trabalho de campo feito pelos cerca de oito mil voluntários que a UNV movimenta a cada ano, especialmente nos países em desenvolvimento. “Conhecer a comunidade de perto nos dá a chance de aprender sobre seus problemas e trabalhar numa solução conjunta, inspirada na realidade de cada localidade.”