Conheça a trajetória da Empreende Aí, de SP, inciativa que forma e qualifica empreendedores da base da pirâmide

Conheça a trajetória da Empreende Aí, de SP, inciativa que forma e qualifica empreendedores da base da pirâmide

 Apesar de estarem a cerca de 16 mil quilômetros de distância, o povoado de Jobra (Bangladesh) e o bairro Jardim São Luís (na Zona Sul da cidade de São Paulo) guardam muitas semelhanças. Afinal, como cantou Edi Rock, dos Racionais, no seminal Sobrevivendo no Inferno, “Periferia é tudo igual”. E foi neste contexto de carência de oportunidades e ausência do poder público que surgiu a Empreende Aí, que atua com cursos de gestão para empreendedores da base da pirâmide econômica. Fundada em 2015 pelo administrador de empresas Luis Coelho, 32 anos, e a psicóloga Jennifer Rodrigues, 33 anos, o negócio de impacto social acaba de completar sua primeira década com muitas histórias para contar. Neste período, passaram mais de seis mil pessoas pelos cursos e dinâmicas realizados presencialmente ou de modo remoto, que foram beneficiadas, também, com um total de R$ 1 milhão entre capital semente e insumos. São números que, certamente, colocam a Empreende Aí em um lugar de destaque no segmento. Ou, como Luis gosta de vaticinar: “Se não somos a maior, certamente estamos entre as três maiores organizações de educação empreendedora do Brasil, focada na periferia!”

Em um período no qual o “S” da sigla ESG (acrônimo para ambiental, social e governança, em inglês) e a diversidade perderam espaço na lista de prioridades de muitas empresas privadas e órgãos de fomento, é digno de nota não apenas a longevidade da Empreende Aí, como seu vigor. Neste ano, o carro-chefe é o programa Despertando a Empreendedora na Gastronomia, voltado à formação e qualificação de mão de obra para o setor de alimentação. O curso foi lançado em setembro e conta com turmas em São Paulo, Toledo (PR), Rio Verde (GO) e Uberlândia (MG). Na Terra da Garoa, o foco são as afro-empreendedoras e nas demais cidades o recorte inclui refugiados e imigrantes que já atuam ou pretender apostar no setor.

Trata-se de um dos mais ambiciosos projetos da Empreende Aí. Isso porque, além da formação educacional, dessa vez a jornada deixará de legado a produção de dois livros: um sobre a culinária afro-diaspórica e outro destacando o impacto das diversas levas de imigrantes nos sabores locais. Como nas demais iniciativas, todas as formações serão gratuitas, pois são fruto de recursos obtidos com empresas privadas, por meio de leis de incentivo federal (Lei Rouanet), estadual (Promac) ou municipal (Proac), além dos editais de fomento, como o VAI TEC, da Agência São Paulo de Desenvolvimento, ligado à Prefeitura. Para 2026, a expectativa é movimentar R$ 500 mil na rede de empreendedores.

 

 

Até chegar neste ponto, os fundadores da Empreende Aí viveram desafios semelhantes aos que afetam milhões de jovens moradores da periferia paulistana (e porque não dizer do mundo!). O primeiro deles foi a entrada prematura no mercado de trabalho, como forma de colaborar com as contas da casa. O ponto de virada veio com o ingresso na universidade. “Fomos beneficiados pelo Prouni, que nos garantiu os recursos necessários para fazer faculdade”, conta Jennifer. O universo de possibilidades que se abriu a partir do curso superior acabou levando-os ao empreendedorismo. Enquanto Luis se tornou sócio de uma loja de roupas, Jennifer se uniu às colegas do cursos para criar uma consultoria focada em educação, além de atuar na área clínica.

O namoro, iniciado em 2014, se transformou em casamento dois anos depois. Ainda no período inicial, Luis mantinha um blog sobre empreendedorismo no qual Jennifer ajudava na produção de conteúdo. Foi com este “chapéu” que o casal embarcou, neste mesmo ano, para o Rio de Janeiro para assistir a palestra de Muhammad Yunus, criador do Grameen Bank, ou Banco dos Pobres, baseado em Bangladesh, cujo projeto lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz. A gênesis do banco, especializado em microcrédito, foi a interlocução do economista bengali com moradoras do povoado de Jobra, que viviam em ciclo de extrema miséria por falta de acesso a crédito barato e educação empreendedora.

De volta a São Paulo, o casal resolveu dar uma guinada no projeto, a partir do desenvolvimento de uma metodologia proprietária, inspirada nos ensinamentos e conceitos de Yunus. Foi neste ponto que a complementariedade dos atributos acadêmicos e expertises da dupla fez a diferença. “Antes de falar do negócio, nós cuidamos de entender quem é a pessoa que está à frente do empreendimento”, destaca Jennifer. As disciplinas do curso de aceleração incluem a sustentabilidade financeira e a importância de o empreendedor focar em suas capacidades e diferenciais competitivos, tendo em mente a necessidade de aprendizagem contínua. Segundo eles, quem segue o passo a passo do curso acaba tendo um incremento de até 40% em suas receitas nos meses subsequentes.

Hoje, a dupla conta com o auxílio de 12 colaboradores para tocar o dia a dia da Empreende Aí. O contingente cresce para 30 nos momentos em que estão sendo rodados projetos de maior fôlego, especialmente aqueles com ações fora da cidade de São Paulo. Para a tarefa são contratados consultores locais, que replicam a metodologia. “Tudo isso foi e é parte de nossa história”, destaca Luis.