FALA! debate o jornalismo de causas, em Salvador

FALA! debate o jornalismo de causas, em Salvador

Começou em grande estilo a terceira edição do FALA! Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas. O evento, que acontece de quinta-feira (25) a sábado (27), no Teatro Gregório de Mattos, no centro histórico de Salvador, reúne jornalistas, comunicadores populares e pesquisadores do tema, além de artistas de diversas vertentes. No centro do debate está o jornalismo de causas, vertente que se preocupa em lançar luzes sobre novas narrativas e privilegiar novas fontes de informação, normalmente escanteadas pela chamada mídia tradicional ou grande mídia.

Elaine Silva, administradora de empresas e sócia do site Alma Preta, conta que o maior desafio, do ponto de vista da organização do evento, foi consolidar as ideias e colocar no papel todos os desejos e expectativas em relação ao Festival. “É um desafio adicional organizar um evento desta magnitude quando sua base de atuação está distante quase dois mil quilômetros da cidade escolhida”, diz. “Afinal, é difícil gerir equipes de forma remota, especialmente quando temos de observar as especificidades de cada território.”

O FALA! é uma iniciativa de quatro sites independentes de notícias: Marco Zero Conteúdo (baseado em Recife), Alma Preta, Ponte Jornalismo e 1 Papo Reto (sediados em São Paulo). O Festival começou a ser idealizado em meados de 2019. As limitações impostas pela pandemia fizeram com que as duas primeiras edições, em 2020 e 2021, acontecessem somente no mundo digital. Dessa vez, optou-se pelo formato híbrido: com palestras e intervenções artísticas apresentadas no canal no Youtube do FALA!.

Desde aquela época, o objetivo era realizar o encontro fora do eixo Rio-São Paulo. E a opção pela capital da Bahia foi quase que natural. “Salvador é a cidade com maior número de negros e negras fora da África, o que nos coloca em contato com uma grande carga de ancestralidade, saberes e conhecimentos que, muitas vezes, são ignorados pelo jornalismo tradicional”, destaca Antonio Junião, cartunista e cofundador da Ponte Jornalismo. Referência também no segmento de comunicação e mídias. "O FALA! chega com a expectativa de dialogar com as inicitivas de jornalismo independente, os comunicadores populares e a mídia antirracista que sempre teve muita força na Bahia e no Nordeste, de um modo geral", completa o jornalista Laércio Portela, cofundador do site Marco Zero.  

E todo esse repertório poderá ser visto ao longo de sete mesas de debate e quatro oficinas com acesso gratuito. Os direitos fundamentais, tendo como eixos a comunicação, a moradia, a segurança e a manifestação artística, permeiam as atividades e são apresentados por protagonistas em diversos campos.

A mesa de abertura, intitulada O lugar da utopia em um mundo distópico, deu o tom do que teremos pela frente, a partir da provocação do professor-doutor Helio Santos, intelectual e militante antirracista, que conclamou os presentes a cerrar fileiras na construção de um novo Brasil: mais inclusivo e diverso, capaz de mudar o eixo de poder econômico e político. “As mulheres negras formam o grupo mais sub-representado no Brasil. Elas compõem 23% da população, mas apenas 2,36% (14 de 594 parlamentares) dos assentos na Câmara dos Deputados são ocupados por autodeclaradas pretas ou pardas”, disse.  

A professora-doutora em comunicação Cintia Guedes seguiu na mesma toada: “Quando eu penso em utopia é o arruinamento de todas essas estruturas (opressivas) de uma maneira radical, é a fundação de uma democracia que talvez a gente tenha que inventar outro nome para chamar esse modo de conviver, co-viver, cooperar, de se atravessar”, disse.

O debate foi mediado pela jornalista e apresentadora da TV Cultura, Cristiane da Silva Guterres que destacou a emoção em abrir o evento: “Eu estou muito emocionada, porque vou abrir esse Festival. E o quão é importante a fala, em todas as lutas de liberdade que as pessoas vêm buscando, pleiteando, ao longo de tantos anos, tantos séculos aqui no Brasil."

1 papo reto marco zero ponte jornalismo alma preta festival fala 2022Antonio Junião (esq.), Pedro Borges, Elaine Silva, Rosenildo Ferreira e Laércio Portela

Para quem não está em Salvador, é possível acompanhar as mesas de debates e as apresentações artísticas no canal de Youtube do Festival FALA!. Veja mais detalhes abaixo:

PROGRAMAÇÃO COMPLETA  

 25/08 - QUINTA-FEIRA

  • 18h - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA - Performance poética de abertura - Amanda Rosa
  • 18h15 - APRESENTAÇÃO DO FESTIVAL - Fala Institucional de um dos fundadores do Festival FALA!
  • 18H30 - MESA DE ABERTURA - O lugar da utopia em um mundo distópico
  • 20h30 - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Iane Gonzaga

26/08 - SEXTA-FEIRA

  • 10h - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Rilton Júnior
  • 10h15 - MESA 1: Entre redes e ruas: que democracia é essa? 
  • 14h - OFICINA - Pesquisa em Jornalismo: Vamos Conservar? O diáologo entre prática e pesquisa em jornalismo 
  • 15h15 - OFICINA - Arte e Cultura: A gente não quer só comida
  • 15h - MESA 2: Novas resistências para velhas violações
  • 18h30 - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Mano Sabota
  • 18H45 - MESA 3: Uma cidade para todas as histórias
  • 20h30 - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Áurea Semiséria

27/08 - SÁBADO

  • 10h15 - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Slam das Minas 
  • 10h30 - MESA 4 -  Novas formas de ver e contar o mundo
  • 14h - OFICINA - Direito à Comunicação. Porque não me calo: o debate interditado sobre o direito à comunicação
  • 15h15 - OFICINA - Pluralidades: Representatividade e empoderamento no centro do debate
  • 15h - MESA 5: Nós por nós. Meio ambiente, devastação e o fim do silenciamento
  • 17h30 - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Diego Mamba Negra
  • 18h - MESA DE ENCERRAMENTO: O jornalismo posicionado e suas subjetividades
  • 20h - INTERVENÇÃO ARTÍSTICA: Pradarrum

 

MESAS: DESCRIÇÕES E PAINELISTAS

QUINTA - 25/08 plateia festival fala 2020

18h30 - MESA DE ABERTURA - O lugar da utopia em um mundo distópico

Sobre o tema: O quanto os ideais de uma sociedade igualitária, verdadeiramente democrática e antirracista, podem impulsionar a agenda política em um contexto de avanço do autoritarismo, da violência e do preconceito

Participantes:

Cristiane da Silva Guterres, Jornalista, apresentadora e redatora. (mediação)

Helio Santos, doutor em administração, fundador do IBD

Cintia Guedes, doutora em Comunicação pela UFRJ, com ênfase em relações raciais, colonialidade do poder e produção de subjetividade


SEXTA - 26/08

10h15 - MESA 1: Entre redes e ruas: que democracia é essa? 

Sobre o tema: Uma discussão sobre a qualidade da democracia no Brasil, a partir da análise do debate público promovido nas redes e a realidade vivida nas ruas 

Participantes:

Mediação: Rosane Borges, doutora em ciência da comunicação pela ECA-USP

Renato Hilário, produtora executivo e co-criadora do Mano a Mano Podcast

Midiã Noelle, jornalista e mestra em Cultura pela UFBA

Célia Tupinambá, liderança indígena, professora, intelectual e artista da aldeia Serra do Padeiro

15h - MESA 2: Novas resistências para velhas violações

Sobre o tema: O papel da comunicação na construção de caminhos contra a barbárie

Participantes:

Valéria Lima, Mídia Étnica e Correio Nagô (mediadora)

Guilherme Soares, jornalista, consultor em diversidade e criador do Guia Negro 

Denise Mota, jornalista Agence France-Press, No Toquen Nada e Folha de SPaulo

Claudia Wanano, comunicadora da Rede WAYURI, de São Gabriel da Cachoeira (AM)

18h45 - MESA 3: Uma cidade para todas as histórias

Sobre o tema: Como artistas, movimentos sociais e comunicadores reivindicam e ocupam seu lugar de expressão e de direitos nos espaços urbanos gentrificados das grandes cidades

Participantes:

Mônica Santos, jornalista  (mediadora)

Luna Bastos, artista visual e muralista

Ana Flor, travesti, comunicadora e mestranda em Educação na USP

Marcelos Teles, coordenador do centro cultural Que Ladeira é Essa 

SÁBADO - 27/08

10h30 - MESA 4 -  Novas formas de ver e contar o mundo

Sobre o tema: Linguagens e narrativas fora da curva que colocam o dedo na ferida e provocam o pensamento crítico misturando arte, cultura e jornalismo

Participantes:

Semayat Oliveira, cofundadora do Nós, Mulheres da Periferia (mediadora)

Fabiana Lima, Slam das Minas

Darwiz Bagdeve, professor universitário e escritor do HQ Guerreiro Fantasma, que apresenta uma Salvador futurista, sem perder as conexões com as raízes 

Yane Mendes, cineasta periférica e uma das coordenadoras da Rede Tumulto, do Recife

 

15h - MESA 5: Nós por nós. Identidade, cultura ancestral e combate ao silenciamento

Organização de redes e produção de informação como instrumentos de luta, identidade e memória de grupos historicamente silenciados pela grande mídia 

Participantes:

Naira Santa Rita, atua na área de Direitos humanos e Sustentabilidade

Erisvam Guajajara, jornalista, defensor dos direitos indígenas, fundador e coordenador da  Mídia Índia

Joyce Cursino, jornalista, produtora e cineasta

Natureza França, educadora, mestre em dança e produtora cultural, integrante do Quilombo Aldeia Tubarão e da Rede ao Redor 

18h - MESA DE ENCERRAMENTO: O jornalismo posicionado e suas subjetividades

Sobre o tema: Contra o falso mito da imparcialidade. Por uma comunicação que tem lado e dialoga com a arte e a cultura

Participantes:

Alma Preta

Marco Zero Conteúdo

Ponte Jornalismo

1 Papo Reto

 

OFICINAS: DESCRIÇÕES E PAINELISTAS (será concedido Certificado de Participação)

IMPORTANTE: Este evento será apenas presencial. As inscrições para o Festival dão direito a participar das Oficinas. (Sujeito a lotação)

Local: Espaço Cultural Boca de Brasa (Praça Castro Alves, s/n - Centro, Salvador - BA)

Horário: 13h30 às 14h30

OFICINA 1 - Pesquisa em Jornalismo: Vamos conversar? O diálogo entre prática e pesquisa em jornalismo

26/08, às 14h. 

Painelistas:

Fabiana Moraes, jornalista, professora e pesquisadora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE, campus Caruaru

Denis de Oliveira, jornalista e professor da ECA-USP

OFICINA 2 - Arte e Cultura: a gente não quer só comida

26/08, às 15h15.

Painelistas:

Marcelino Freire, escritor e contista

Miriam Alves,  escritora literata

OFICINA 3 - Direito à Comunicação. Porque não me calo: o debate interditado sobre o direito à comunicação

27/08, às 14h. 

Painelistas:

Charô Nunes, Blogueiras Negras

Daiene Mendes, Repórteres Sem Fronteiras

OFICINA 4 – Pluralidade: Representatividade e empoderamento no centro do debate

27/08, às 15h15

Painelistas:

Aline Midlej, jornalista Globo News

Joyce Ribeiro, jornalista da TV Cultura

Valéria Almeida, jornalista do programa Encontro


PATROCÍNIO

Google News Initiative e Open Society Foundations

REALIZAÇÃO

Instituto FALA! e sites de notícias Alma Preta, Marco Zero Conteúdo, Ponte Jornalismo e 1 Papo Reto

https://festivalfala.org.br/

 

APOIO

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