Negacionismo e fake news na mira do governo brasileiro, na COP30

Negacionismo e fake news na mira do governo brasileiro, na COP30

Apesar das inúmeras evidências e estudos científicos, a desinformação acerca das mudanças climáticas e outros eventos extremos, como a pandemia de Covid-19, continuam circulando com força em todo o mundo. Para tentar mudar o jogo, governos de diversos países, empresas privadas e órgãos multilaterais criaram estratégias de ação em prol da integridade da informação. E o Brasil possui um lugar de destaque neste campo, de acordo com a secretária-adjunta da Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, Nina Santos. O conceito garante que as pessoas tenham acesso à informação de qualidade no dia a dia, funcionando como uma resposta ao negacionismo e à desinformação. 

Desde o G20, realizado em 2024, o tema tem sido debatido, especialmente no contexto dos impactos da mudança do clima. Agora, na COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém, ele retorna ao centro do debate internacional, integrado à Agenda de Ação. O Global Risks Report 2024, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, apontou as condições climáticas extremas como o maior risco para a estabilidade global, seguidas pela disseminação de desinformação. O estudo identifica as fake news e o negacionismo como os riscos mais graves para os próximos dois anos, representando uma ameaça à legitimidade de governos e à coesão social.

“Às vezes, quando a gente fala de combate à desinformação e de combate ao negacionismo, as pessoas pensam muito nos conteúdos individuais. Esse, porém, é um problema muito mais estrutural do que individual. Por isso, a gente precisa também pensar em soluções estruturais”, explica Nina Santos. Ela ressalta que o negacionismo climático tem crescido globalmente e faz parte de um processo mais amplo de tentativa de descredibilizar a democracia, a ciência e as instituições. 

Nesse contexto, o Brasil lançou, no ano passado, a Iniciativa Global pela Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, que reúne a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o governo do Brasil e outros seis países (Chile, Dinamarca, França, Marrocos, Reino Unido e Suécia). A coalizão propõe soluções concretas para enfrentar a desinformação e outras táticas que buscam atrasar e comprometer a ação climática. “O Brasil trouxe esse tema como essencial no G20, no grupo de economia digital. Depois, para o BRICS, para o Mercosul e, agora, na COP, que vai se realizar aqui no Brasil, pela primeira vez, a gente vai ter integridade da informação como um tema na Agenda de Ação da COP”, detalha Nina Santos.

Segundo a secretária-adjunta, o país tem se destacado como uma liderança mundial no tema, que inclui não apenas o combate à desinformação, mas também a regulação de plataformas e a educação midiática. “Essa ação estrutural que a gente precisa fazer para garantir que a gente tenha informação de qualidade circulando e, sobretudo, que as pessoas no seu dia a dia possam tomar decisões informadas”, acrescenta.

Secretaria de Politicas Digitais da Presidência da Republica Nina SantosNina Santos, Secretaria de Politicas Digitais da Presidência: "A desinformação é um problema estrutural" 

Para Nina Santos, esse processo envolve educação e capacitação. “As pessoas precisam, cada vez mais, entender como é que a tecnologia funciona, como a informação se dissemina nesse ambiente e também como elas próprias podem fazer para checar uma informação, ver se é verdade, se aquele site realmente é um site oficial”, detalha, acrescentando que isso previne não só a desinformação, como também fraudes e golpes digitais. 

O financiamento das iniciativas se dão a partir de um fundo bancado pelo países signatários, sob a liderança da UNESCO e destinado a promover ações de pesquisa, jornalismo e comunicação estratégica que garantam informações de qualidade sobre a mudança do clima. O Brasil foi o primeiro país a contribuir, destinando US$1 milhão, sendo US$600 mil neste ano e US$400 mil previstos para 2026.

Rumo à COP30

Na COP30, a Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima faz parte da Agenda de Ação, que convoca diversos atores sociais a se engajar na ação climática. A proposta da Presidência da COP30 é que essa mobilização forme um “mutirão” pelo clima e contribua na implementação dos acordos climáticos já estabelecidos. 

Ao todo, a Agenda de Ação está organizada em seis eixos temáticos, que se desdobram em 30 objetivos-chave. O esforço está entre esses objetivos em um eixo transversal, que envolve diversas frentes de atuação. Foram aprovadas 123 iniciativas de 27 países sobre o tema para integrar o Celeiro de Soluções - portal criado para destacar iniciativas práticas que geram resultados concretos em relação aos 30 Objetivos-Chave da Agenda de Ação. As propostas incluem ferramentas práticas e pesquisas voltadas a fortalecer a qualidade e a confiabilidade da comunicação climática.

“Essas iniciativas são de governos, de organizações da sociedade civil, de movimentos sociais, de universidades. A gente está tentando reunir nesse Celeiro iniciativas de todos os tipos que possam servir um pouco como exemplo, como boas práticas de como é que a gente pode seguir adiante nesse debate de maneira complexa e entendendo também possibilidades de cooperação”, comenta Nina Santos.

A Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima também integra a programação de dias temáticos da COP30. Nos dias 12 e 13 de novembro de 2025, painéis e debates ocorrerão na zonas Azul e Verde da Conferência, reunindo especialistas, governos e sociedade civil para consolidar estratégias de combate à desinformação e fortalecer a implementação de políticas de integridade da informação em escala global.

Com informações de Mayara Souto, da COP30