Na rua da amargura

Na rua da amargura

 As consequências do desemprego vão além da queda da renda das famílias afetas pela falta de trabalho. Em muitos casos, a inexistência de uma fonte de renda faz com que muitos brasileiros deixem suas casas a passem a viver nas ruas. Essa é uma das conclusões do estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), tendo como base os dados do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), referente a agosto. De acordo com o Ipea, o país conta com 227 mil pessoas nesta situação, montante mais que 10 vezes superior ao registrado em 2013: 21.934.

Os técnicos do Instituto alertam que os números podem estar subestimados, devido à dificuldade em recensear pessoas nesta condição. Na lista de catalisadores para a saída do lar, o desemprego é apontado por 40,5% dos entrevistados, seguido por questões familiares e com os companheiros (47,3%), alcoolismo e outras drogas (30,4%), perda de moradia (26,1%), ameaça e violência (4,8%), distância do local de trabalho (4,2%), tratamento de saúde (3,1%), preferência ou opção própria (2,9%) e outras questões (11,2%). Como cada entrevistado pode ter indicado mais de um motivo, a soma dos percentuais supera os 100%.

Analisando a questão a partir de categorias, o Ipea encontrou três dimensões: exclusão econômica (que envolve insegurança alimentar, desemprego e déficit habitacional); fragilização ou ruptura de vínculos sociais (vínculos familiares e comunitários, por meio dos quais essas pessoas poderiam ser capazes de obter acolhimento em situações de dificuldade); e problemas de saúde (principalmente aqueles relacionados à saúde mental).

As três dimensões não são excludentes e é comum que se manifestem ao mesmo tempo. Metade dos que alegaram motivações ligadas à saúde também indicaram questões familiares e 44% acrescentaram causas econômicas. Entre os que tiveram problemas familiares, 42% também sofreram com questões econômicas e 34% relataram motivos de saúde.

E o que pesa mais no tempo de permanência na rua? Problemas familiares e motivos de saúde, especialmente abuso de álcool e outras drogas, fazem com que a situação dure mais. Razões econômicas geralmente significam situação de rua de curta duração. No agregado, 33,7% estavam nesta condição por até 6 meses, 14,2% entre 6 meses e 1 ano, 13% entre 1 e 2 anos, 16,6% entre 2 e 5 anos, 10,8% entre 5 e 10 anos e 11,7% há mais de 10 anos.

Raça, cor e sexo

A maioria dos que viviam na rua (68%) se declarou negra, seguidos de Brancos (31,1%). O número médio de anos de escolaridade entre os negros (6,7 anos) era menor que entre os brancos (7,4 anos). Mulheres eram apenas 11,6% da população adulta nessa situação.

Cerca de 70% moravam no mesmo estado em que haviam nascido. E 24% não possuíam certidão de nascimento. Entre os adultos, 29% não tinham título de eleitor e 24% não possuíam carteira de trabalho. Somente 58% das crianças e adolescentes de 7 a 15 anos frequentavam a escola. E 69% da população adulta realizava alguma atividade para obter dinheiro, mas apenas 1% tinha emprego com carteira assinada.

Aqueles que costumavam dormir na rua com alguma frequência eram 58%. Um terço dormia em albergues. Pouco mais de 3% costumavam dormir em domicílios particulares, e 12% em outros espaços que não se enquadram entre os anteriores.

 

Com informações da Agência Brasil

 Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil