Uma conversa com um colega de indústria me deixou reflexiva: como aprofundar a informação que chega aos jovens nas redes sociais? Elogiei um post que explicava uma notícia complexa em formato de vídeo-meme — super em alta nos jornais “moderninhos” — e, em torno, meu colega disse que é um desafio explicar assuntos complexos nesse formato sem ser superficial. Realmente, sem espaço para detalhes ou contextos, as redes dão uma visão de mundo extremamente restrita. E o jornalismo não está a salvo disso ao transitar por esse meio.
Já perdi as contas de quantas vezes entrei em discussões com pessoas próximas sobre posts de notícias ou vídeos de pessoas comentando sobre esses posts. Muitos dos argumentos deixam evidente que a pessoa leu só a manchete… sequer chegou a abrir o texto e ler os três primeiros parágrafos. Isso é um problema grave! Como vamos informar um público que não vê a importância de realmente entender o que está acontecendo a sua volta? Como as fotos que passam no feed, as manchetes são um pequeno retrato em um contexto muito maior.
Acho que aderir a vídeos “moderninhos”, que tentam explicar problemas complexos em no máximo 1 minuto e 30 segundos, é um bom primeiro passo. No mínimo, eles duram mais do que o tempo de leitura da manchete, e despertam interesse ao fazer referências que o usuário das redes não está acostumado. De uma duas: ou ele vai pesquisar mais, ou vai abandonar o vídeo porque não entendeu. Mas, como uma pessoa Gen Z, posso atestar que o FOMO causado por não entender um meme geralmente me leva a ficar curiosa e procurar a referência.
Outra ideia interessante me foi apresentada por uma amiga, que não gosta de ler o jornal, mas sentia que precisava se informar melhor. Buscando meios alternativos, ela encontrou uma conta no Instagram que explica tudo em formato de powerpoint — os posts são carrosséis com listas de fatos que resumem as principais notícias, um formato super simples e diferente que já atraiu 1.2 milhões de seguidores.
Ainda dentro da telinha do celular, não dá para deixar de falar da CazéTV, que abraçou um formato superinteressante de repórteres-influencers, trazendo uma cobertura muito completa para as redes. Cada repórter do canal tem sua própria conta, onde posta conteúdo individual. Daí, a TV faz uma curadoria do conteúdo dessas contas em sua página principal com vídeos que são postados em colaboração (quando duas contas postam conteúdo juntas, que aparece nos dois feeds — nesse caso, o feed do repórter e da TV). Isso traz uma cobertura muito extensa, de vários ângulos, e que apela aos diferentes públicos dentro dos amantes do esporte, já que cada repórter tem conteúdo que apela ao seu próprio conjunto de seguidores. É uma proposta muito inovadora e que ajuda a amenizar a superficialidade das redes.
Mas como ir além? Parte do apelo da superficialidade das redes é a fadiga e ansiedade sofrida pela geração Z.
Levantamentos publicados por empresas apontam que os GenZers já sofrem de burnout mais do que outras gerações, e muitos se sentem estressados ou ansiosos com frequência, o que pode estar ligado a uma dificuldade em equilibrar a vida pessoal e o trabalho, de acordo com uma reportagem de 2022 da newsletter HR Brew. Parte dessa falta de equilíbrio pode estar ligada ao fato de que esses adultos nunca se desconectam completamente das telas, inclusive quando se trata de se desconectar do trabalho.
Também existe uma tendência de isolamento por parte dessa geração, que dificulta uma vivência orgânica da vida em sociedade. É como o caso da Coréia do Sul, que paga seus jovens para saírem de casa. Ansiosos por causa das expectativas impostas pela sociedade e suas famílias, como tirar notas altas e seguir carreiras convencionais, eles optam por ficar em seus quartos e não ter contato com ninguém, nem a própria família, uma forma de evitar desafios e decepções, de acordo com uma reportagem de 2023 da BBC.
Dessa ansiedade, compartilho um pouco. Me lembro que ao me formar na faculdade, fiquei pensando como haviam milhares de pessoas se formando naquele mesmo ano. Hoje em dia, ter um título universitário é cada vez mais comum. É cada vez mais difícil se destacar em posições júnior, o que leva muitas pessoas — pelo menos lá nos Estados Unidos, onde estudei — a irem direto para o mestrado depois da faculdade. Os jovens estão se casando cada vez mais tarde, demorando cada vez mais para ter independência financeira e tendo carreiras em que pulam de empresa a empresa de poucos em poucos anos. Como seguir o exemplo e cumprir as expectativas dos adultos se os caminhos traçados por eles não existem mais?
Com tanto em mente, é mais fácil evitar vivenciar o mundo lá fora, e isso inclui não entender seus assuntos pessimistas e complexos, como guerras, política e economia, se apegando ao universo dos vídeo-memes, que trazem uma realidade muito mais simples e bem-humorada.
Acho que uma forma de surfar nessa onda é abraçar um pouco mais a informalidade e o bom humor.
Um bom exemplo é o grupo de newsletters Brew, que tem foco em notícias de economia, negócios, finanças, mas também traz os principais assuntos do dia. O time do Brew escreve de forma bem-humorada, colocando piadinhas, trocadilhos, memes e gifs sempre que apropriado. Claro, não fazem isso ao falar de tragédias, por exemplo, mas o tom jovem de suas newsletter se assemelha muito à comunicação informal das redes, quebrando o formato “careta” da mídia tradicional sem perder a qualidade da informação.
Mas dá para fazer mais do que isso. Acho que essa grande presença do público jovem nas redes pode ser usada como uma oportunidade de mudança. Por que não usar o próprio mercado de influência para influenciar um comportamento mais orgânico, uma vivência mais complexa?
Veja o exemplo da influenciadora e advogada Gabriela Prioli, que adora reflexões e complexidade. Há 5 anos, ela tem um clube do livro em parceria com o historiador Leandro Karnal. Com inscrições limitadas, o clube tem aulas, discussões e a leitura frequente de obras variadas, como o livro da própria Prioli. Que melhor maneira de incentivar uma vivência orgânica em sociedade, vender sua obra e promover o aprendizado e discussões profundas? Juntos, os dois criadores do clube usam sua imagem e influência para fazer da leitura uma coisa de gente legal e interessante.
E alguns jovens parecem ativamente interessados nesse tipo de vivência orgânica. Na minha ex-universidade, duas alunas criaram um app para promover a socialização entre estudantes, de acordo com o The Daily Free Press, jornal estudantil da Boston University. Pensando no formato das redes, o app permite que os universitários criem grupos de mensagem com pessoas com quem tenham interesses em comum, vejam o que está acontecendo ao redor do câmpus e postem sobre suas próprias atividades. De grupos de estudos a festas de fraternidade, a ideia é transformar o isolamento do celular em uma oportunidade para cada um encontrar sua tribo e socializar fora das telas.
A comunicação vem se transformando e tornando cada vez mais complexo o trabalho dos jornais de informar seu público, mas existem caminhos. Com tantas propostas interessantes por aí, é preciso repensar completamente o formato de entrega da comunicação, e quem sabe usar do movimento de influência das redes para influenciar uma vivência mais orgânica e complexa, onde as pessoas se interessem em entender em detalhe o mundo à sua volta.
