Surgido em 1997, por meio do Protocolo de Kyoto, o mercado de crédito de carbono prometia uma verdadeira revolução na luta contra o aquecimento global. Isso porque, este mecanismo atrelaria os projetos de mitigação da emissão de gases que causam o efeito estufa a ações de preservação ambiental. Desde então, foram investidos cerca de US$ 10 bilhões em iniciativas de compensação de emissões, de acordo com o Banco Mundial.
O que parecia ser a “bala de prata” capaz de liquidar os problemas ambientais, recuperar áreas degradadas e gerar desenvolvimento inclusivo em ecossistemas ameaçados se mostrou um fiasco do ponto de vista social. “Somente as grandes empresas e os latifundiários é que se beneficiam do mercado de carbono”, critica o engenheiro florestal Gabriel Neto (cuja foto abre esta reportagem).
Segundo ele, esta conclusão é fruto de sua experiência no mundo corporativo, quando dava expediente em uma empresa multinacional de agronegócio. “A complexidade da utilização dessas ferramentas e os custos envolvidos fazem com que este mercado se torne inviável para pequenos produtores.” Ao se ver diante do que classifica como uma grande injustiça climática, Gabriel resolveu usar seu conhecimento na área para unir empreendedorismo, restauração ambiental e propósito.
Foi assim que nasceu a Agroforestry Carbon, baseada em Palhoça (SC) e focada na compensação de carbono beneficiando pequenos agricultores que cultivam em Sistema Agro Florestal (SAF), também conhecido como agricultura regenerativa que une produção de alimentos diversificados com proteção do solo e promoção da biodiversidade.
Lançada em 2002, a startup já exibe números vistosos. Sua plataforma conta com 352 propriedades cadastradas, espalhadas por Brasil, Argentina e México. Deste total, 211 foram beneficiadas com recursos pelo plantio de mais de 150 mil árvores. “Nosso modelo de negócio premia o agricultor em sua jornada diária. Ou seja, ele ganha para fazer o que já faria normalmente”, explica.
Gabriel conta que outro componente que faz da Agroforestry Carbon um negócio inovador é a simplicidade em todas as etapas. Para as empresas que desejam fazer compensação ambiental, eles possuem pacotes de serviços que começam na elaboração de um inventário de emissões, cujo resultado é expresso em número de árvores a serem plantadas. Também é possível acessar uma calculadora de carbono sob medida ou optar por um plano de assinatura de serviços.
A remuneração do agricultor não se limita ao plantio recorrente de árvores cujas sementes ele já dispõe em seu ciclo natural de produção. A agrofloresta embute outros eco serviços como a preservação e/ou a restauração de nascentes e o retorno de espécies de animais para o ecossistema e a produção de alimentos íntegros.
Guinada
O modelo de negócio foi construído a partir da experiência adquirida por Gabriel ao longo de um ano, período no qual percorreu o interior do país a bordo de um motorhome. O que começou como um ano sabático acabou se convertendo em uma grande jornada de aprendizagem. De volta a Santa Catarina, o engenheiro florestal se associou ao advogado Renato Canuto, especialista na área tributária.
Após passar por uma rodada de aceleração no Instituto de Apoio à Inovação, Ciência e Tecnologia (INAITEC), mobilizador do Parque Tecnológico Pedra Branca, em Palhoça, cidade da Região Metropolitana de Florianópolis a dupla chamou a atenção de investidores-anjos, que desembolsaram R$ 300 mil na aquisição de 15% do negócio.
Nas próximas semanas, a Agroforestry Carbon lançará um equity crowdfunding no qual pretende levantar R$ 2 milhões em troca de 10% do negócio. Com isso, a dupla espera ampliar a escala de atuação, especialmente a partir de mecanismos mais sofisticados de controle e gestão. “Precisamos muito de tecnologia, pois hoje fazemos tudo de forma muito manual”, diz Canuto. “Nosso objetivo é atuar em escala global, incentivando o modelo agroflorestal.”
