Os desafios da transição orgânica

Os desafios da transição orgânica

O processo de transição da produção convencional para a orgânica não é fácil. Para quem já tem um histórico na agricultura é necessário deixar de lado muitos dos aprendizados conquistados durante anos para recomeçar. A mudança de manejo gera insegurança, especialmente em relação à sanidade das plantas.

“O primeiro passo é uma mudança de pensamento e entender que é necessário respeitar a planta. É ela que vai te apontar o que precisa ser feito”, afirma Vladimir Gallo, produtor rural que junto com os sócios Alberto Kamimura e Hildeone Ribeiro, está passando pelo processo de transição orgânica. Eles cultivam goiaba e graviola em um sítio de 30 hectares no município de Vista Alegre do Alto, interior de São Paulo.

De acordo com Gallo, o cultivo orgânico é mais trabalhoso que o convencional. “No orgânico você precisa estar muito mais atento às plantas, para saber, por exemplo, se precisa ou não entrar com alguma ação de controle para um ataque de inseto”.

As mudanças de manejo implementadas pelos sócios neste processo de transição foram mais relacionadas ao controle de pragas e doenças do que à adubação. Eles já adotavam um modelo de agricultura voltado para preservação da qualidade do solo e uso racional da água, com uso de adubação orgânica e manejo do mato e das podas para cobertura do solo.  

Os insumos químicos foram substituídos por biológicos, e as pulverizações que eram corretivas passaram a ser preventivas.  “É preciso antecipar possíveis problemas de acordo com a fase fisiológica da planta, pois a ação dos insumos biológicos não é imediata. Exige um período maior de controle”, explica Gallo.

O produtor rural revela que o objetivo dos sócios é manter o padrão que qualidade dos frutos, pelo qual já são reconhecidos, e colher goiaba orgânica o ano todo.  A indução da florada é feita por meio de podas programadas. “Como temos a meta de colher fora dos períodos de safra, o nosso desafio no controle de pragas e doenças é maior. Mas estamos otimistas”.

O custo de produção aumentou entre 40% e 35% comparado ao manejo convencional. O preço dos insumos utilizados para adubações e pulverizações é mais alto, e os gastos com mão de obra para capina, roçagem, monitoramento das plantas e adubação (adubação orgânica demanda maior esforço na aplicação) aumentaram.

Para este período de transição, além de contar com a ajuda de um consultor especializado no cultivo de orgânicos, os sócios optaram por contratar, desde o início, o acompanhamento de uma empresa certificadora. Uma segurança para, lá na frente, não se deparar com alguma não conformidade que atrase a obtenção da certificação orgânica. A norma brasileira exige um período mínimo de 1 ano e 6 meses para transição de culturas perenes.

desafios da transicao organica 1 papo reto interna(a partir da esq.) Gallo, Ribeiro e Kamimura  Outra opção é contratar uma certificadora depois de cumprir o período de transição. Para isso, é necessário solicitar e comprovar manejo orgânico anterior para a validação do trabalho realizado.  Neste modelo é fundamental o acompanhando de um técnico especializado para evitar erros que comprometam a certificação.

E todo esse esforço vale a pena? “Sempre nos preocupamos em respeitar os períodos de carência e oferecer frutas sem resíduos de químicos tóxicos para a saúde. Saber que estamos cultivando um alimento saudável e ainda contribuindo para a preservação dos recursos naturais compensa todo o esforço”, afirma Gallo.

Dicas

Vladmir Gallo e os sócios dão algumas dicas para agricultores que deseja iniciar o processo de transição orgânica:

  • Acreditar no modelo de produção orgânica. Se não acreditar, não adianta tentar. A transição exige esforço é e necessário estar disposto a passar pelas dificuldades da mudança; 
  • Experimentar o manejo orgânico em uma área pequena, sem ter foco na certificação. Com isso, é possível conhecer a reação das plantas, as dificuldades que serão encontradas durante a transição e as ações que devem ser adotadas para corrigir problemas; 
  • Encontrar um técnico especializado para uma orientação adequada da mudança de manejo e indicação dos insumos autorizados no cultivo orgânico. Ainda faltam técnicos especializados no mercado e é mais difícil encontrar insumos autorizados;
  • Fazer a gestão dos custos e dos indicadores de performance para garantir a sustentabilidade financeira da propriedade. Cadernos de campo, controle financeiro, planilhas de poda e de tratos culturais são instrumentos importantes criar um histórico de produção, dos gastos e da receita.

 

 

 

Milena Miziara

Autor: Milena Miziara

Sobre o/a Autor(a) Milena Miziara é jornalista. Desde 2019 também atua como sócia-fundadora da marca de frutas Laverani Orgânicos (SP)


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