Em 2021, em plena pandemia, uma das muitas polêmicas envolvendo os Jogos Olímpicos de Tóquio foi a decisão da Federação Internacional de Natação (Fina) de negar a homologação da touca Soul Cap, desenhada especificamente para penteados dreads, um traço dos adeptos da cultura rastafári, e cabelos volumosos usados por homens e mulheres negros. A negativa acabou motivando debates acalorados na instância legislativa da União Europeia que resultaram na pressão pela liberação do item para os nadadores, em 2024, nos Jogos de Paris. A vitória de Michael Chapman e Toks Ahmed-Salawudeen, criadores da Soul Cap, em 2017, que se aliaram a Alice Dearing, primeira atleta negra da modalidade a representar o Reino Unido, tornou a Soul Cap uma peça conhecido em todo o mundo.
No rastro da decisão da Fina e do burburinho gerado em torno da proibição, os grandes fabricantes de material esportivo começaram a notar o crescimento no número de comentários de consumidores em suas redes sociais pedindo que incluíssem em suas linhas de produção itens semelhantes. Uma delas foi a brasileira Speedo Multisport, que acaba de lançar a Power Afro Cap, também conhecida como GG2, sua versão de touca específica para nadadores com cabelo volumosos, tranças ou dreadlocks.
“A touca é resultado da soma da demanda espontânea que recebemos via internet e das interlocuções com consumidores ao longo das dezenas de competições que patrocinamos, no Brasil, nos incentivando a incluir este item no portfólio”, conta Eledir Busanello, gerente de produtos da Speedo, que alterna períodos de trabalho entre São Paulo e Shenzhen, cidade considerada o Vale do Silício da China, onde acompanha o desenvolvimento de produtos. Ela diz que para chegar à versão final da GG2 foram necessárias muitas pesquisas e testes conduzidos por um time multidisciplinar, baseado na China e no Brasil, ao longo de 13 meses. As avaliações incluíram tanto a produção quanto de usabilidade, envolvendo brasileiros e moradores da China que usam dreads.
Segundo a executiva, a empresa faz uma grande aposta nesta linha, cuja estimativa inicial é da ampliação em 5% nas vendas totais de toucas de natação. A confiança em um bom desempenho está baseada na penetração da marca, além dos dados etnográficos da população do país: “A comunidade afro-brasileira possui um peso expressivo, representando 54,6% da população. Além disso muitos brancos usam tranças, tornando-se igualmente público-alvo desse produto. E para fortalecer a GG2 frente às concorrentes locais e importadas, a direção da Speedo optou em focar em uma divulgação qualificada, feita em parceria com professores e coaches de natação. “Também reforçamos nossas ações específicas para o modelo ao longo de todas as competições”, conta. “Agora podemos dizer que temos uma touca para cada tipo de cabelo”.
Apesar de o preço de venda no varejo, fixado em R$ 129,90 estar abaixo de muitas opções importadas, comercializadas em lojas online, a direção da brasileira Speedo investiu pesado em diferenciais tecnológicos para se impor neste nicho, usando como premissa o mantra segundo o qual “a natação precisa ser prazerosa e confortável”, criado por Roberto Jalonetsky, diretor-geral da empresa. “A peça é fácil e rápida de ser colocada, além e possuir borda reforçada que evita que a touca saia da cabeça na hora do mergulho e nos demais momento de atrito com a água, evitando que os componentes químicos presentes na água (como o cloro) contaminem o cabelo”, diz Eledir.
De acordo com dados do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a natação segue firme na preferência dos brasileiros despontando como o quarto esporte mais praticado, atrás de futebol, vôlei e tênis de mesa. São nada menos que 11 milhões de homens, mulheres e crianças dando suas braçadas em rios, lagoas, represas piscinas e nas praias. Agora, a expectativa é engajar brasileiras e brasileiros que deixam de dar um tchibum temendo estragar as madeixas!
